Sobre a Comédia e quem a faz

Surgiram recentemente, nos comentários a um post anterior, algumas questões sobre a autoria de textos de humor. Vamos a isso, então:

Fazer comédia não tem piada nenhuma. Que isto fique bem claro.
Uma vez a cada cem textos, há um que surge como inspiração divina.
Mas na maioria dos casos, é um processo lento, sofrido. Sem grande piada.
Quando se escreve comédia, nada parece realmente ter graça, tudo soa a familiar e, depois de mastigar demasiado uma piada, acaba por saber mal...
Além disso, é um processo de constante refinar. Escreve-se, reescreve-se, adapta-se, testa-se e volta-se ao início. Ou deita-se fora.

Pouca gente escreve comédia. Eu próprio escrevo pouco, o suficiente para mim (o resultado como se vê não é grande espingarda e confesso que também sou preguiçoso).

A maioria do pessoal que aparece no "Levanta-te e Ri" é também autor dos textos. Tirando um ou outro convidado especial, para quem se encomenda material, é a malta que escreve o produto.
Claro que também há casos em que alguém se lembra de uma piada que fica bem no texto de outro, e faz-se uma transacção, uma troca.

Por isso acabamos por ter resultados tão diferentes: há malta que consegue manter um ritmo de textos aceitáveis, outros só a cada solstício é que conseguem escrever com piada. E outros nem isso.

É como a música: nem sempre a melodia agrada.

10 comentários:

JuleX disse...

É bem verdade, devias dedicar este post a todos aqueles que acham que se faz comédia em série

karmatoon disse...

Muito bem! É bom que o público de comédia tenha a noção de que não se faz comédia na brincadeira. Muito pelo contrário! Fazer rir requer a mesma seriedade que fazer chorar, fazer pensar, assustar, enfim, pensem em todos os géneros de cinema/teatro que existem...
Qualquer processo de criação artística exige de todos os envolvidos uma grande dose de dedicação. Tentar dar corpo a uma idéia - para um sketch cómico, por exemplo - sem a levar a sério; partir para a execução da mesma, mas com leviandade em vez de responsabilidade, é comprometer o resultado final.
O actor que deu corpo à personagem de Gimli (já não sei se é assim que se escreve e nem tão pouco me lembro do nome do senhor...) na trilogia do "Senhor dos aneis", não exita em afirmar que qualquer exercício de improviso significa obrigatoriamente que o resultado não poderá ser menos do que «lixo»!
Pessoalmente não iria tão longe. Tenho na memória algumas situações hilariantes nascidas de puro improviso; conheço - quem não conhece - actores, actrizes, comediantes, que dominam o improviso como ninguém; realizadores que incentivam os seus actores a improvisar livremente para que daí possam nascer situações ricas em carácter. No entanto, entendo que o melhor resultado surge sempre da repetição exaustiva de uma idéia, até ao aperfeiçoamento final. O ensaio tem, por isso mesmo, um valor inqualificável para um artista que se pretende sério e «profissional». Perguntem lá ao amigo Moura quanto tempo ele dispendeu no sketch que levou ao último L&R? Perguntem-lhe como é que ele o conseguiu aperfeiçoar em menos de dois dias? Gostaram do resultado final? Haviam de o ter visto dois dias antes...
Abraço, colega Regionário!

Anónimo disse...

Sabes o que é pena. Pena é que exista muita gente com qualidade sem qualquer oporunidade Até rimou mas é verdade... Dê-se oportunidade à malta nova para escrever e/ou actuar...

Carlos disse...

Sobre essa da oportunidade, espreita o meu próximo post.

Alien disse...

É que é mesmo isso que acontece... =) E concordo com o julex: isto é bom para quem pensa que se faz comédia em série.
Bjs e bom trabaho

Alien disse...

É que é mesmo isso que acontece... =) E concordo com o julex: isto é bom para quem pensa que se faz comédia em série.
Bjs e bom trabaho

Anónimo disse...

Quando acaba o levanta-te e ri tambem notei que quem escreve os textos do Miguel Barros é o Joao Seabra, Eduardo Madeira e Miguel 7 Estacas... Mais alguem escreve textos do levanta-te e ri para outros comediantes??? Axo k os do marco horacio eram da autoria dele...

Ass: Ana

Anónimo disse...

Voltando à ideia que me levou a comentar o último post, será assim tão importante que um comediante escreva os seus textos ?

Agrada-me que escrevam os seus textos, mas a capacidade de representação de cada um não saíria de certeza diminuida se não o fizessem. São duas facetas importantes mas não obrigatórias num comediante.

Lanço desde já uma espécie de desafio ao Carlos Moura, já que vai falar de oportunidades... e que tal falar das oportunidades que nós, público, damos ou deixamos de dar ??? Estou a referir-me directamente a criticarem uma pessoa (neste caso o Miguel Barros) porque "não tem tanta piada como o outro" (Marco Horácio).

Não me levem a mal, mas todos estávamos habituados ao MH. Ele estava no programa desde o início, tratava o L&R por tu. Estavam mesmo à espera que quem o viesse substituir fosse logo cair nas graças de todos nós logo no início ?

Dêem tempo ao rapaz para evoluir e depois critiquem à vontade.

Um abraço a todos e em especial ao Carlos Moura.

PS: Este comentário devia vir com uma placa a dizer "VEÍCULO LONGO"

El Maluko disse...

Bem, é exactamente isso... Em cada 100 piadas que escrevo, apenas 1 tem (pelo menos que eu ache)realmente piada...parece que estamos a forçar... Mas depois acabam sempre por funcionar

Inês Ramos disse...

Acho que já te disse isto :) mas os outros também podem saber o que eu acho...

É MEEESMO bom ter-te de volta ao Laf!

E já que gostas da poesia de António Gedeão deixo-te aqui a subversão feita por mim em tom de pastiche dum poema dele que deixo dedicada a ti e a todos que têm como objectivo na vida fazer rir:


Eu, quando rio.
não rio de ti.
Rio-me daquilo que em mim
todo tempo vi.
As risadas são as minhas
mas o riso, eu vivi.

Porra. É mesmo bom ter-te de volta!