Ainda sobre o fim do Levanta-te

Além do meu post inicial sobre o fim anunciado do "Levanta-te e Ri", outras discussões surgem sobre o assunto. Como no fórum do Quadrado das Bermudas, que merece uma visita.
Já agora, e não invalidando a visita ao referido fórum, partilho com vocês a opinião que lá afixei:

O que dizer sobre o fim do Levanta-te e Ri?
Antes de mais, que era relativamente previsível, por vários factores.

Primeiro, a dinâmica televisiva que existe em Portugal é de certa forma alérgica à noção de consolidar programas em antena. Ou seja, vive-se um espírito de cartucho, de foguete festivo: quando se lança a coisa para o ar, tem que arrebentar à primeira e depois há medo de lhe mexer, de o deixar amadurecer e transformar-se. Isto impede que hajam grandes transformações nos programas em antena e que se suporte formatos em fases menos boas - aos primeiros sinais de fraqueza, manda-se abater o animal.
Mesmo assim, o L&R durou mais tempo do que o esperado e sofreu várias mutações;

Segundo, o sucesso e a singularidade do programa serviram de calcanhar de Aquiles. Em três anos de emissões, o programa nunca deixou a antena e esteve sempre no ar, (quando ia um mês de férias, a SIC transmitia repetições) causando um cansaço natural e perdendo impacto perante o público;

Terceiro, aquilo que diferenciou o "Levanta-te" no seu lançamento deu também origem a um cancro silencioso... A ideia de fazer um programa de Stand-Up Comedy surgiu como uma novidade e abriu portas a novos e inesperados talentos, mas foi como se lançássemos um programa de fado no Tibete: não havia cultura de stand-up em Portugal nem comediantes suficientes para alimentar um programa semanal.

Isto deu origem a algumas fases interessantes. No início, pediram a actores para encenarem textos de stand-up, o que não resultou: a comédia de stand-up vai contra muitas regras do teatro e é uma das performances artísticas que mais expôe e fragiliza o comunicador, o que não é habitual nem confortável para um actor habituado à segurança de um texto fechado e uma actuação distanciada do público. A seguir, começaram a surgir comediantes como o Nilton, o Aldo, eu, o Seabra, o Bruno, o RAP, etc, que conquistaram algum público seguro e aí deu-se outro fenómeno interessante: a fasquia subiu e a SIC passou a ter medo de apostar em novos nomes, fazendo-o só de vez em quando e de forma esporádica, com receio de espantar a freguesia.
Face à escassez de meios humanos, o programa desvirtualizou-se bastante. Passou de um programa de stand-up em estúdio com ambiente de bar para um programa de humor em viagem por auditórios em todo o país.
Esta transformação também contribuiu para que, ainda hoje, algumas pessoas não saibam o que é stand-up, juntando no mesmo saco monólogos teatrais, contadores de anedotas, contadores de histórias e clowns.

Em certa medida, podemos dizer que se começou a casa pelo telhado.
O stand-up não é uma arte que surge nos auditórios nem na televisão. O verdadeiro lar da stand-up são os bares e a intervenção ao vivo, o ambiente do clube de comédia, próximo do público, acolhedor, intimista. A stand-up só atinge realmente o seu ponto máximo quando se sente este clima de proximidade e de quase confidência, como se o comediante fosse alguém conhecido que conversa connosco durante uns copos. Este é que deve ser o ponto de partida - e não o de chegada.

Em Portugal, começamos a Stand-Up com um programa de televisão e daí passámos para os bares. Fizémos a coisa ao contrário, e isto deu origem a uma série de problemas. Novos comediantes, por exemplo, não têm a oportunidade de testar e aperfeiçoar textos novos. Sem os tradicionais circuitos de comédia em bares e night-clubs, onde é que um comediante tem hipótese para aprender, errar, testar conceitos, arriscar temas, pisar a linha? Só num programa de televisão em directo, o Levanta-te. E se falhar, como até é natural que aconteça, é encostado às boxes.

Mesmo assim, criou-se público e comediantes, começaram a surgir alguns bares interessados e a stand-up começou a infiltrar-se no panorama português.
Não acredito que a stand-up em Portugal acabe porque não faz sentido - a pensar assim, o teatro de marionetas já só se encontrava nos livros de história, por exemplo.
A stand-up será sempre bem-recebida porque é o género de humor mais directamente ligado ao quotidiano e porque é despida de artifícios. É directa, íntima, mordaz e exploratória. E, acima de tudo, é altamente mutável, não é estanque.

Acredito, isso sim, que agora vamos começar a recriar a stand-up comedy em Portugal. Vamos invadir os bares, infiltrarmo-nos na proximidade do público e conquistar novos espaços.
E vamos ter que redefinir a noção estabelecida.
E, neste processo, vamos certamente perder alguns dos actuais rostos mas vamos descobrir muitos outros.
O fim do Levanta-te é o fim de um programa.
Só isso.

6 comentários:

Anónimo disse...

Carlos:

Espero que sim que tenhas razão que não morra o Stand-up e a sua diversidade de humoristas.O LER sofreu muitas mais coisas do que escreveste, mas não há possibilidade de escrever tanto e depois ninguém lia.
Pelo menos o humor e a comédia (seja ela como fôr ) vêm agora com mais força e as pessoas têm mais respeito pelo RIR e fazer rir .
Gosto de te ver actuar, ás vezes o Nilton, ás vezes o Bruno, o Marco Horácio, O RAP, até os nomes não tão conhecidos de vez em quando surpeendiam agradávelmente.
Obrigada a todos por fazerem belos momentos de humor.
Do coração.
Força e não se atrevam a parar de fazer a arte de fazer rir!
muito amor e carinho
paula p

Anónimo disse...

Realmente é pena que o programa acabe. Mas quando se vê erros, como por exemplo a insistência em convidar Eduardo Madeira, que foi dos piores humoristas que já passaram pelo programa, talvez o programa não possa mesmo continuar. Ainda agora o estou a ver e ouvir e é mesmo impossível conseguir rir.

Como dizes, pelo menos o Levanta-te e ri serviu para lançar novos humoristas. Já viram... Se não fosse o Levanta-te e ri talvez não "houvesse" o fantástico e único Bruno Nogueira. O que era este país sem ele a fazer o que faz e, especialmente, o que fará?

Carlos, quanto a ti, no próximo programa que apresentares na televisão, não te esqueças, faz favor, de te apresentares mais calmo e mais natural ;)
Continua a lutar por um lugar na nossa televisão que bem mereces.

Anónimo disse...

pedro, relamente vou ter de concordar ctg... e acredita que com muita pena... eu também assiti ao ultimo levanta-te e ri, num ambiente tipíco duma familia portuguesa: mãe, irmão e eu... e sinceramente... o eduardo até se esforça... mas fazer rir... não é de facto com ele.
Mas ainda tenho a acrescentar outro facto, e espero não ser mal interpretada porque apenas estou a criticar alguns dos erros que na minha opinião acontecem no programa. O ferando rocha, que sem duvida tem um talento enorme para contar anedotas, já começa a enjoar com todos os palavrões que diz! até porque já pudemos ouvir o fernando noutro formato, e mesmo sem os palavrões tem muita graça. acho que já estaría na altura de ser um bocadito mais "educado".

em relação a ti carlos, continuo exactaente cm a mesma opinião de sempre. axo-te um comediante 5 estrelas! principalmente no verdadeiro stand-up. a unica coisa a apontar relamente é que nem sempre o teu humor é acessivel a toda a gente! se e permitem "é algo de muito á frente"!

Anónimo disse...

não havia cultura de stand-up em Portugal nem comediantes suficientes para alimentar um programa semanal.


o verdadeiro problema é mesmo este..

ha gajos mesmo bons, carlos moura, seabra, 7 estacas, hugo sousa, paulo baldaia, pedro neves, menezes, miranda e jose moreira.. assim a 1ª so me lembrei destes.. e sao poucos pa manter um nivel elevado um programa q da semanalmente!

ter posto tb o Miguel barros a apresentar foi 543348 mil tiros nos pés! ele nem pa Stand UP tem jeito, quanto mais pa apresentar 1 programa de tal!

e o Eduardo Madeira ta la porque senao me engano é ele q escreve a maior parte dos textos do Marco Horacio..antes eram outros mas q tb bateram a porta..por isso tb se nota q o nivel das piadas do marco horacio já n é o mesmo..se bem q ele faz-nos sp rir pk tem mesmo jeito pakilo e consegue dar a volta!

Anónimo disse...

carissimo amigo.
li atentamente os posts que colocaste no teu blog e que re referem ao Stand up, ao humor (de uma forma geral) e ao LER (de forma particular).
Se me permites concordo na integra com tudo o que referiste. Mais... quando se refere que neste país fazemos as coisas ao contrário e que - no que concerne ao LER - primeiro temos de aparecer na TV para garantirmos alguma visibilidade que nos permita ir a bares, deixa-me que te diga que nem sempre as coisas se verificam dessa forma.
Lembro-te que o projecto (já terminado) do púcaros foi um fenómeno que durou quase 6 anos e que jamais necessitou de mediatismo televisivo para estar semanalmente lotado, de forma irrespirável até. É pena que o anónimo que tanto critica o humor e a malta que faz humor neste país não tenha tido oportunidade de assitir a algumas dessas noites. Mais...
Quantas e quantas vezes não nos divertimos e, acima de tudo, divertimos o público (fazendo algumas noites de humor memoráveis) com coisas absolutamente inesperadas, fora do padrão normal daquilo que alguns entendem ser o humor???
Fiz até ter ido a primeira vez ao LER cerca de 100 espectáculos pelo país, alguns deles contigo e outros - muitos - com outros grandes humoristas como o Rui Xará e o Paulo baldaia.
Sinceramente... Não me fodam!
Que o programa acabe, cumpre-me parafrazear Paulo Baldaia quando dizia que na vida tudo passa, até a uva passa.
Quanto ao resto, não tenho a menor dúvida que tu, eu e muitos ourros continuaremos a divertir-mo-nos de forma intensa por este país fora e, acima de tudo, proporcionar a centenas de pessoas momentos muito bonitos de espontaneidade e humor.
até sempre...

Anónimo disse...

"O fim do Levanta-te é o fim de um programa.
Só isso."

Esta frase diz tudo. Obviamente que há coisas que se revelaram erradas mas foram mais as que correram bem...

Quanto aos comediantes... alguns eram claramente de pouca qualidade. Estilizaram o trabalho e nunca surpreendiam ninguém. Mas maus profissionais há em todo o lado...

O Madeira, de facto, acabou em miséria. As suas últimas actuações foram deploráveis.

Sobre os textos do Horácio, não acho nada que estejam piores. São aquilo que são, mas maus não são de certeza. Além disso, o Horácio já não encara o programa com a mesma vontade de outros tempos...isso também é notório.

Abraço.