Ainda sobre O Sindicato

Com cerca de um aninho de existência, o "O Sindicato" mostra-se agora de forças renovadas e mais crescido, maduro, apurado.
Para quem (ainda) não sabe, "O Sindicato" é um grupo de comediantes stand-up que surgiu de uma pergunta simples: como é que se faz para garantir a aprendizagem e evolução da comédia?
A comédia em Portugal sofre de algumas doenças graves.
Primeiro, não é ainda respeitada como arte nobre: um comediante é sempre visto ou como um adaptador de anedotas ou como um actor de segunda. Apesar de ser um chavão comum dizer que é muito mais difícil fazer comédia do que drama, a verdade é que, depois de anos e anos de parodiantes e "cromos" do riso, o estatuto de comediante ainda é visto como um sub-género. Não há tradição, não há escola, não disseminação e, como tal, não há lá muito respeito. Pouca gente leva os comediantes a sério.
Segundo, com esta condição de eternos secundários, não há um circuito de comédia, não há bares de comédia e certamente não há sítios onde um iniciante possa pôr em práctica ideias novas e testar material. Caímos no erro de levar estreantes a programas de TV, sem os deixarmos dar com a cabeça nas paredes primeiro.
O trabalho em bares, auditórios e cafés-concerto é fundamental. A comédia é um desporto de alta -competição, que exige treino, habituação e por vezes, muitas "lesões" e tentativas falhadas.
O pior é que, se não se criarem condições para os novos talentos e se não se estruturarem formas de partilhar conhecimentos e adquirir experiências, estamos a matar o futuro da comédia. É obrigatório garantir "o futuro da espécie".
Solução? Juntar comediantes experientes com novatos. Unir esta malta toda. Sindicalizar. Trabalhar em grupo. Preços mais baixos mas mais horas de vôo. Dividir esforços.
E assim surgiu "O Sindicato" - mais de uma dúzia de comediantes, unidos, a atacar todos os sítios onde haja um microfone e público.
Ao fim de um ano, nota-se a evolução. As horas de palco começam a mostrar rendimento, a dar frutos. Andam aí gajos muito bons. E, juntos, são ainda mais fortes.
Para este novo ano, começam a surgir desafios como improv comedy e sketches, além do primeiro piscar de olho à ficção nacional.
Preparem-se. Qualquer dia, conquistamos o país, num 25 de Abril ainda mais silencioso que o último.

9 comentários:

Anónimo disse...

Boa Sorte. E que dê melhores frutos que o último!

Carlos disse...

anónimo:
o último, a "Região Estrangeira", deu frutos excelentes. Foram é poucos. Se tivesse continuado no norte e se a vida não tivesse esta mania de dar voltas, ainda hoje estaríamos a semear e a colher.

Gui disse...

Avate sindicalistas! =)

...é bom ter a mesma idade de stand up comedy que o sindicato e crescer detro deste grupo "brutal"! Foi a melhor altura para nascer e n há como agradecer a oportunidade...

A mais cabeçadas nas paredes!!! =)

hug,
gui

Lali disse...

Quem escreve assim não é disléxico!...
Eu como fã do Sindicato, faço o que me é devido...divulgo e assisto...quando tenho oportunidade e companhia disposta a aturar as minhas gargalhadas descontroladas. Mas não desistam, vocês têm fibra...e piada...

kisses

karmatoon disse...

(Ainda estou a pensar se farei bem em escrever a minha opinião, vocês são muitos e eu sou um mero caixa-de-óculos...
Mas enfim, partamos do princípio mais que certo que uma crítica é sempre uma boa crítica!)

Apoio tudo o que escreveste, meu bom amigo. Nãolhe acrescentava uma vírgula. Acho sinceramente que só uma força colectiva como a vossa é capaz de vencer esses preconceitos chatos e sem fundamento, e acredito piamente que no trabalho de grupo estão as bases para uma boa aprendizagem, também ela de grupo. No entanto - e pelos vistos tenho sempre esta tendência dos "e no entanto" -, parece-me que, pelas amostras recolhidas, ainda vos falta uma grande e boa evolução. Evolução essa, que parece estar mesmo ali por baixo da pele à espera de sair cá para fora. Imagina uma borbulha: vemos o que está lá por dentro, e sabemos que está prestes a explodir. Porque apesar de haver uma necessidade de contrariar essa de que um comediante de stand up não é mais do que um "actor de segunda", a verdade que alguns dos «sindicalistas» não têm ainda - talvez por falta de experiência - a qualidade sequer de um actor de segunda. E é muito fácil cair na tentação de pensar que um comediante de stand up não está a representar quando está em cima de um palco, mas eu e tu, e provavelmente todos os teus colegas de grupo, sabemos que isso é falso. Todos actuam, todos compõem uma pequena personagem e todos REPRESENTAM os textos que escrevem e ensaiam em casa. Não querendo ser injusto, confesso por esta altura que só tive a oportunidade de ver actuar uma meia dúzia de «sindicalistas», e não quero de modo algum estar a assinar uma sentença de suicídio sem razão aparente. Mas esta é a minha forte convicção: é preciso melhorar muito ao nível da interpretação, para poderem ser, como muitos comediantes de stand up de destaque sempre o foram - e nunca foram mais do que isso -, actores de segunda.
O segundo reparo, tem a ver com uma certa (e aparente) falta de arrojo nos conteúdos. Já tivemos esta discussão milhões de vezes e a conclusão foi sempre a mesma: em Portugal os comediantes parecem estar condicionados pelo público para que actuam, quando devia ser o contrário. Se o público português ainda se ri com a mais leviana das facilidades de todas as piadas que contenham palavras como "peido" e outras asneiras convencionadas pelo povo, é papel fundamental na carreira de um comediante ensinar o público a gostar e a rir de outros tipos de humor. Todo o stand up que vi até hoje ensinou-me uma coisa: os públicos americano e inglês - e menciono estes por razões mais do que óbvias - riem-se de quase tudo o que sai da boca de um comediante e por uma razão muito simples: porque estão atentos ao que se passa à sua volta. Essa é uma das razões pelas quais o nosso publicozinho não se ri de quase nada que não seja brejeiro, porque não entende tudo, não sabe tudo, e conhece quase nada. É contra isso, quer-me parecer, que um comediante, ou se preferirem, um colectivo de comediantes, tem de combater.
A título de exemplo, posso mesmo afirmar que quando tive a oportunidade de conhecer um dos teus parceiros de Sindicato, numa imformal e bem disposta conversa de esplanada, ri-me mil vezes mais com os «disparates» que ele disse do que quando o vi na televisão. Falta de coragem de arriscar? Prefiro acreditar que sim.

Mais uma vez, não me entendas mal. Sabes que sempre apoiei projectos deste cariz, e que sempre dei a máxima força para este em particular. Acho é que podem fazer muito mais, não só em quantidade, como também em qualidade e originalidade.

Um abraço, na esperança de que quando for a Lisboa não me façam uma esperinha à porta do comboio...

Carlos disse...

Nuno "Karmatoon" Matos:

é por estas e por outras que gosto de ti, pá.
Abraço
Moura

Vítor disse...

Se existe um grupo que merece todo o meu respeito e admiração é com toda a certeza "O Sindicato", O sindicato e os AA.
Gosto de rapaziada que se ajuda uns aos outros.
Como é sabido gosto mesmo do vosso trabalho, estão a fazer um Optimo trabalho no que toca a tirar a Nobre arte de Stand Up desse Limbo artistico.
E quem sabe um dia haverá um
"Royal Institut of Stand Up Comedy of Sacavém de Cima"
E já sabem pelo menos um espectador já têm!
Forte abraço
Vitor

Anónimo disse...

Carlos, eu estava a referir-me a: "Qualquer dia, conquistamos o país, num 25 de Abril ainda mais silencioso que o último". Digamos, num sentido irónico.
Relativamente à Região Estrangeira, estou de acordo contigo. Aliás, eu seria a última pessoa a dizer o contrário.
De qualquer modo, desejo o melhor para "O Sindicato".

Psantos disse...

ja agora...quem carregar no link para a tua pagina pessoal...cai no vazio.
Que tal linkar ao Blog?
Em pleno alzheimer é bom estar linkado a qualquer coisa!