A gregos e troianos

E cá voltamos nós à conversa do costume.
Tenham lá paciência, mas esforcem-se por ler isto até ao fim. Ou então desistam agora.
Adiante.
Num post recente sobre o estado da comédia em Portugal (ver mais abaixo), dei por mim a cair na esparrela de tocar na ferida. A ferida de que, afinal, ainda somos muito receosos no que toca a apostar em coisas novas e esticar o limite para lá do normal.
O que levou à troca de muitas palavras por telefone, por mail e alguns comentários.
(Por falar nisso, é impressão minha ou anda toda a gente preguiçosa demais para fazer comments? O feedback é sempre bem-vindo, minha gente...)
E foi no meio destas conversas que surgiu a frase que me arrepia: agradar a Gregos e Troianos.
A questão é esta: as televisões funcionam como a maior montra para os comediantes portugueses. É o melhor meio para atingir milhares de pessoas e dar a conhecer o nosso trabalho e, sejamos sinceros, é para isso que cá estamos, para fazer rir pessoas e para chegar até elas.
Mas as televisões têm como alvo um público generalista e, calcanhar de Aquiles, só funcionam com dinheiro, como qualquer empresa no mundo. E a única forma de vender mais publicidade e angariar mais dinheiro é com boas audiências. Ou seja, conquistar a maioria das pessoas. E não se iludam: entre fazer coisas novas, arrojadas, e manter centenas de postos de emprego e os salários ao fim do mês, qualquer director responsável escolhe a segunda.
Assim, qualquer macaco que apareça no ecrã tem nos seus ombros uma dupla responsabilidade: transmitir uma mensagem que a maioria dos espectadores receba e fazê-lo de forma a que os mesmos espectadores não mudem para outro macaco, noutro canal.
E isto, ás vezes, é o fim da macacada.

É que isto de agradar a ambos os lados do cerco não é tarefa fácil; é tão complexa que, na maioria dos casos, origina equívocos bastante graves.
O primeiro grande equívoco é "o que as pessoas querem ver".
Partimos do princípio que "isto é o que as pessoas gostam" porque, em determinada altura e em determinado canal, apresentou resultados satisfatórios. Logo, se funcionou, é "isto que temos que fazer".
Isto explica porque é que surgem produtos televisivos tão parecidos, como os "Malucos do Riso" e "O Prédio do Vasco", a guerra das novelas (argh!) e por aí adiante: pela necessidade de ultrapassar o adversário depressa e com eficácia, nem que se tenha que recorrer ao copy-paste.
O tempo é o maior inimigo. O relógio é uma guilhotina no pescoço de qualquer produção; toda a gente sabe que para se mudar rumos e criar novas bases é preciso tempo - e isso pura e simplesmente não existe.

Portanto, temos que agradar a Gregos e Troianos.
Certo?
Mais ou menos.

É que até este conceito pode levar a erros, especialmente pela noção de sucesso que lhe está inerente. A ideia de "agradar a gregos e troianos" leva a que a maioria das pessoas (quantas vezes não caí nessa armadilha) tentem fazer o chamado prato-misto, colocando de parte o que poderia ser alta-cozinha. É como nos almoços para muita gente: lombinhos de vitela com champignon são sempre uma hipótese de maior aceitação.
Erro.
Creio que devemos arriscar e tentar coisas novas - a questão está em fazê-lo de forma a que penetre nas cabecinhas da generalidade.
E isso, meus caros, é que é tarefa ingrata, onde eu, por exemplo, tenho sérias dificuldades.
A criança pode não gostar de vegetais, mas come-os todos se forem ralados na sopa.
Casos como George Carlin ou Lenny Bruce? Vejam os espectáculos deles; mestres supremos em misturar mensagens fáceis com o que realmente querem dizer. E o público gosta. Claro que gosta.

"Isto é o que o público quer ver."
A maioria do público não sabe o que quer ver. A maioria das pessoas não liga a televisão com uma ideia pré-concebida sobre o que querem ver. E o público não tem pena daquilo que não vê e do que não sabe.

No caso da comédia, o problema não está em chamar o público.
O problema está em manter o público.
E para isso é preciso fazê-lo rir, certo. Mas, acima de tudo, é preciso guiá-lo para onde nós queremos ir. Para onde os queremos levar.
E depois há a questão do Pires, "se o público na sala não estiver a rir, o que é que te garante que em casa está?".
Companheiro, se o público na sala não estiver a rir, é porque estou a fazer mal o meu trabalho. Não quer dizer que o material não tem valor ou potencial, quer dizer que o estou a usar mal - não estou a conseguir guiar o público para o meu objectivo. E a rir, que é a condicionante deste negócio.

Agradar à maioria. Claro que sim. Mas somos nós que temos o volante e temos que ser nós a escolher o rumo. Somos nós que temos que aumentar a fasquia.
Claro que terá que haver concessões: temos que fazê-lo de forma equilibrada, aos poucos, por vezes não tão depressa como gostaríamos.
Porque há um facto que é intransponível, o público é que manda. O público não sabe como nem através do quê, mas só quer uma coisa: bom entretenimento.
Esse é o objectivo.
Os caminhos para lá chegarmos, esses somos nós que escolhemos.

Imaginem-se numa camioneta com milhares de turistas.
Vamos pelo caminho mais radical ou pela via panorâmica?

6 comentários:

S. disse...

Aguardo ansiosamente. ;)

i disse...

..e não estarão os novos projectos e tendências no humor português (arrojados e inovadores ou não)condenados a passar pelo cabo (para testar público alvo e definir conteúdos sem grandes riscos orçamentais) antes de haver uma oportunidade na generalista? É que com tantas condicionantes, parece que 9 em cada 10 bons comediantes que possam surgir, nunca vão sair da estrada para o ecrã. E já nem falo da importância de viver em Lisboa...

EL Graxa disse...

Em jeito de resposta ao post Sobre a Comédia em Portugal ( João Pires - Cap II ) ;)

Acredito que se a qualidade do trabalho o justificar, o local de residencia ( neste caso a capital ) não é justificação plausível para a não exploração de um talento!

Todos os projectos tem um periodo de carencia, de modo a que a sua qualidade e viabilidade sejam aprovados e aceites pelo público, de modo a comprovar o que na REALIDADE interessa a quem financia estes projectos - As Audiências - enquanto isso não acontece, são os " artistas, comediantes, palhaços " que arcam com as despesas do projecto e claro sem qualquer remuneração, é um meio de trabalho mto ingrato...

Todos nós vemos diariamente lixo televisivo, neste momento quase nao vejo Tv ( nem ela a mim )isto porque cada vez mais me sinto ignorante e desprezada perante a programação, não me admira que voltem a colocar o Big Show Sic de novo!

Exceptuando certos casos pontuais do CSI ( SIC ), filmes "inovadores" ( RTP 1), nao me lembro de excepções da TVI... O botão da RTP 2 - no comando da Tv - deve ser o mais gasto, isto porque ao menos o National Geographic deixa os animais agirem sem guião...

Bem, em jeito de conclusão, acho que devem tentar fazer os textos e actuações o mais fiéis possíveis à vossa personalidade ou "imagem de marca", isto pelo facto de no caso de uma aposta em lançamento em projectos de comédia , pelo menos não tens de trabalhar em algo para o qual não tens qualquer jeito e o teu público, será sempre o teu público.
Ficavas impressionado com a quantidade de pessoas que são fiéis a um bom " trabalho/ texto " e consequentemente ao seu autor, e isso meus amigos, mesmo com "sugestões" da produção do programa, os "fãs" lá estarão...

Não stressar, deixem algum stress para a Andropausa!!!

EL Graxa disse...
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karmatoon disse...

O humor em Portugal É uma valente cagada.
E não vamos fazer comparações inúteis. O píblico americano tem 50 anos de escola de stand-up nas costas, está preparado para todo o tipo de comédia.
Em Portugal, a comédia, nomeadamente o stand-up, começou da pior forma. Começou tarde, de rompante e da forma mais básica, mais fácil. O humor usado no stand-up português é feito de anedotas recontadas até à exaustão e o público ri-se como se nunca as tivesse ouvido. É feito de boçalidade, e esse sim foi o motivo pelo qual ainda existe, e existirá sempre, um forte preconceito contra stand-up comedy made in Portugal.
Esqueçam o assunto...

Anónimo disse...

1º audiencias? isso tem mt ke se lhe diga....kem garante k meia duzia de audimetros representam o k Portugal INTEIRO está a ver? kerem um exemplo?nada mais facil: Herman Enciclopedia. Toda a gente conhece/conhecia as frases, iasse a kualker lado e ouviasse sempre alguem a repetir frases do H.E. toda a gente usava o "nao há necessidade..." ou "este hoem nao é do norte carago" ou ainda "fantastico Mlega!" e muitas outras. Mas inexplicavelmente,raramente o H.E. aparecia nos 20 mais vistos da semana....

2º"karmatoon said...
O humor em Portugal É uma valente cagada" se falas do humor da SIC e TVI no horario do Zé Povinho e Sra Maria Dona de Casa,sim... diz cagada em letras maiusculas.Mas nos ke nao somos Zé Povinho,viramonos por exemplo para um Nuno Markl na Antena 3,pa um Nilton,para uma boa comedia numa peça de teatro...para um Gato Fedorento..mas isso nao encontras nas generalistas,porque,e supostamente,meia duzia de audimetros dizem o k Portugal INTEIRO ker ver

3º Levanta-te e Ri,ja foi bem melhor,qnd nao iam la supostos comediantes k qnd tao a fazer stand up,falam como s tivessem a ler um texto (e mal) para uma criancinha na escola. E no minimo uma dessas pessoas costuma andar por aki a postar... Uma sugestao: sejam naturais!se nao conseguem ser naturais,nao vale a pena.Ah e ja agora,se depois de algumas idas ao Levanta-te e Ri voces notarem k as pessoas pouco s riem das vossas piadas,mais vale desistirem