Lembrei-me agora mesmo

Quando eu era miúdo pensava que todas as pessoas olhavam para a vida como se de uma aventura se tratasse.
Na minha perspectiva de puto, para se estar no mundo era preciso ter espírito de Alain Quartermain, sempre com uma faca de mato debaixo da almofada, pronto para saltar da cama em direcção às savanas africanas ou a qualquer floresta tropical em busca de tesouros perdidos.
Algures no planeta, haveria sempre uma grande aventura à espera e, mais tarde ou mais cedo, lá teríamos de faltar às aulas para viajar até algum sítio distante e perigoso com a nossa mochila às costas e o cantil à cintura.

A vida não faria muito sentido se não fosse como nos filmes do Errol Flyn.

Era por isso que eu estava sempre pronto, aguardando ansiosamente o momento em que teria de substituir os cadernos e o estojo na minha mochila da escola por uma corda, latas de sardinha, lanterna e canivete.
Enquanto isso, treinava afincadamente, subindo a todas as àrvores que encontrasse. Lutava com os cães e imaginava que eram leões. A minha fisga parecia uma Winchester. O meu cavalo cavalgava veloz pelas cordilheiras do oriente, embora fosse só a minha bicicleta deslizando na minha rua. A escada lá de casa tanto era o Kilimanjaro como um barco de piratas e era assim que, no meu caso, o engenho lá ia aguçando a necessidade.
Tinha que estar preparado: a qualquer momento a aventura podia bater à porta e não seria simpático deixá-la à espera.

Estava convencido que todas as pessoas sabiam disto e que a única razão pela qual tinham empregos cinzentos e vidas aborrecidas era porque ainda não tinham encontrado um mapa do tesouro. Mas de certeza que andavam à procura.

Ainda me mantive fiel à ideia de que haveria um Sandokan dentro de todos nós durante muito tempo, mas com o passar dos anos tive que ir reformulando a teoria... Comecei-me a aperceber que algumas pessoas pareciam estar muito displicentes em relação à possibilidade de ter que fugir a mercenários durante uma expedição, a maioria delas parecia mesmo conformada com a convicção absurda de isto nunca lhes vir a acontecer, imaginem só.
A meu ver, esse era um erro fatal: as pessoas desistiam antecipadamente e distraíam-se com coisas menores como o emprego e as contas e cortinados novos; e distraíam-se tanto que, quando a aventura lhes aparecesse à frente, de certeza que nem a viam.

E por isso é que as pessoas não tinham uma vida igual à do Indiana Jones.
Não era porque não tivessem oportunidade, era porque já não acreditavam.

7 comentários:

abox disse...

pois... quando se deixa de acreditar é mau... e triste...

S. disse...

Aproveita que te lembraste para não deixar esquecer.
:)X

Anónimo disse...

É engraçado, mas o teu discurso está cada vez mais adulto, mais sensivel. É bom sentir as pessoas com as experiencias de vida à flor da pele...é sinal que viveram todos esses momentos com intensidade devida, ou seja aprenderam a crescer. Tens uma maneira de pensar deliciosa...

Carlos, eu acredito que um dia ainda às de vir a minha casa! Gosto de conhecer pessoas diferentes pois ac´ho muito interessante observar pontos de vista diferentes do meu. Sim, pq cada pessoa tem a sua própria perspectiva...e a tua, é muito interessante!

Sou toda boa

P.S- Não tenho apartamento com vista para a Expo! ;)

Menina Marota disse...

eheheh...

estou a rir-me da msg anterior!!
Senão, nem comentava!!! ahah

Anónimo disse...

É tão engraçado observar que a perspectiva das louras!

Sou toda boa

Anónimo disse...

É tão engraçado observar a perspectiva das louras!

Sou toda boa

S. disse...

É tão engraçado ver gajas ao milho!