Pedro Alpiarça


(1958-2007)
Estive ontem na Sociedade Guilherme Cossoul para, juntamente com dezenas de outras pessoas, prestar homenagem a Pedro Alpiarça, numa noite de afectos, reencontros e calor humano.
Foi no fim de Setembro que o Pedro mais uma vez surpreendeu tudo e todos e voou para outros destinos. Uma morte trágica, inesperada. Teatral, até.
Dos que ali estiveram ontem, no familiar carinho da Cossoul, eu sou provavelmente o que menos tempo passou na companhia do Alpiarça. Dele guardo a memória de conversas densas mas despretensiosas, de um ser humano afável e sempre acessível, assim como de um actor com capacidades bem maiores do que para bonecos em séries de humor televisivas. Não é fácil, a vida de actor em Portugal.
Guardo-lhe o sorriso. Se há coisa que o Pedro espalhava, era o sorriso.
Mas agora, analisando os factos e revendo a história, percebo que era um sorriso que escondia muitos outros sentimentos, e se calhar nem todos tão felizes.

Vivemos num adiar constante.
Continuamos convencidos que amanhã ainda todos estaremos cá.
Adiamos constantemente aquele abraço, aquele tempo para ouvir.
Achamos que fazer uma pausa na nossa rotina para estar com alguém, só por estar, é uma aparente perda de tempo.
E caímos num erro de oratória constante: em vez de perguntarmos "Como estás?", avançamos sempre com um despachado "Tudo bem?". E esquecemos que, em ambos os casos, uma pergunta deve sempre ter uma resposta.

Para os que ficam, o relógio ainda tem corda.
Aproveitemos os minutos que restam.
Não vai rodar para sempre.

4 comentários:

Anónimo disse...

Por vezes deparo-me com pessoas que se nota que precisam falar... ter alguém diferente do habitual para poderem contar aquelas histórias que mais ninguém quer ouvir... e nem sempre tenho tempo para os poder ouvir...

Tento compensar com gestos, atitudes... n é facil...

Outras vezes sou eu quem precisa desse ombro amigo.... e sinto-me só...

Vítor disse...

Tens toda a razão...
Por vezes um simples "Olá" faz toda a diferença.
Mas não podemos deixar as coisas num simples "Olá", e temos de ir mais longe,
Fico-me por aqui. tenho ainda alguns "Olá, como estás?" para por em dia!
Gracias p'lo Lembrete!

Sarita disse...

É verdade, partimos do pressuposto que amanhã estaremos cá todos...e por vezes somos atraiçoados....

Irrita-me falamos muito e fazemos muito pouco ou nada...e então quando as pessoas que se dizem amigas parecem que desaparecem perante uma fase dificil da nossa vida? Irrita-me!Irrita-me! Eu sei que todos têm os seus problemas mas partilhando, conversando e simplesmente estando presente! Quem sabe, se esta inter-ajuda não permite atenuar os problemas de ambos!!

É mais fácil dizer: Hoje não estiveste bem!
do que dizer:
Para a próxima vais sair-te melhor....
Bjokas

Menina Marota disse...

É verdade... cada vez mais é perceptível que estamos todos de passagem...os Amigos vão-se e fica a saudade...

Um abraço