Policarpo polifónico

O Cardeal Patriarca de Lisboa, José Policarpo, afirmou na homilia de Natal que o afastamento de Deus, ou o seu esquecimento e negação, constituem "o maior drama da humanidade".
Segundo este cavalheiro, "Todas as expressões de ateísmo, todas as formas existenciais de negação ou esquecimento de Deus, continuam a ser o maior drama da humanidade, que tiram todo o sentido ao Natal, que é a exultação e o grito de alegria e de esperança que brotou do reencontro do homem com Deus"
Ou seja, segundo as palavras deste opinion-maker adornado a ouro e habituado às regalias que o seu cargo lhe oferece no polvo católico, esqueçam os conflitos bélicos gerados pela fome de petróleo e pela discussão de que o meu deus é melhor que o teu, além da pobreza, da fome, da SIDA, aquecimento global e até mesmo o preço da PS3.
Esqueçam.
Segundo Mister Policarpo, o ateísmo é o maior drama da humanidade.
Que é como quem diz, estão a mexer no meu queijo.
Mais interessante ainda é a leitura nas entrelinhas de que o ateísmo é a perda de esperança. Esse é um argumento que os teístas estão fartos de usar, como se fizesse sentido. Mas já dizia o outro, a alegria de um crente está para um ateu como a alegria de um bêbado está para um sóbrio. Adiante.
Pelo meio, este macaco da selva católica ainda teve o descaramento de meter o dedo onde não é chamado, fazendo questão de dizer que "não é a ciência que redime o ser humano", numa tentativa curiosa de afastar os seus crentes do pensamento científico...
Enfim. No meio do bolo-rei da televisão natalícia, eis a fava.

Um dia, algures no futuro, haverá gente a olhar para esta gravação e a rir da mesma forma que hoje nos rimos quando vemos os xamãs das tribos aborígenas a dançarem aos deuses para que venha chuva. E nessa altura, alguém há de colocar a pergunta: como é que aqueles tipos conseguiam ter naves espaciais, comunicações digitais e sabonetes líquidos... e ainda aturavam aquilo?

12 comentários:

Eduardo Ramos disse...

Percebo-te.

---------------------------
ding-dong
- sim!
- Nós trazemos a palavra de Deus.
- Deixe aí à porta que eu estou de pijama e tenho os botões da braguilha cairam.
- Não quer conhecer a boa nova e como se salvar?
- Abri ontem um conta poupança reforma sei de cór o número do INEM.
- Mas quando morrer vai para o inferno.
- Então até lá. Depois terei a eternidade para me falar de como me poderia ter salvo.
- Mas eu vou para céu.
- Ponha a mão na sua consciência. Tem a certeza disso? Ou pensa que por se confessar a um homem que não faz a mínima ideia o que faz na vida intima(basta ter em conta os padres pedófilos que são descobertos todos os dias) e qual a relação que tem com Deus e depois voltar a repetir os mesmo pecados, lhe trás realmente a absolvição?
- ...
- Obrigado! Mas tenho que ir coser uns botões antes que me constipe.
-----------------------
;)

RJ disse...

É o maior drama da humanidade, para a hierarquia da ICAR, ou seja, um grupo de gente que não conseguem manipular e/ou influenciar.

O homem só faz o trabalho dele... Procurar manter fiéis e arranjar um ou outro adicional.

Mas o problema dele nem está no ateísmo, mas nos fiéis que não lhe ligam nada. O católico não praticante é como que um sócio do Benfica que não paga quotas nem vai aos jogos, mas quer juntar-se à festa quando ganham um campeonato.
Os ateus e outros não crentes são casos perdidos.

No seguimento do que o Carlos Moura diz no parágrafo final, nunca mais chega o dia em que a religião passa exclusivamente para os livros de história e/ou de fantasia.

Anónimo disse...

o "descrédito" na igreja é culpa dela própria. As pessoas deixaram de ser analfabetas, começaram a ter estudos e a ver as coisas de outra forma. Deixaram de receber cassetes que ficam em play durante anos, agora escolhe-se.

Anónimo disse...

Sei que não vais postar isto, pois só postas os comentários que te interessam (coisas de cobarde).

O problema na relegião é que quem é relegioso tem que respeitar quem não é se não são "apedrejados", já o contrário não se verifica, "fica bem" a quem não é relegioso não respeitar quem o é.

Respeito quem não acredita, mas não respeito quem não acredita e não respeita quem acredita.

O maior drama da humanidade é aqueles que querem fechar os olhos dos outros e não os respeitam...

Carlos disse...

Ao "anónimo":

Pela enésima vez, escolher os comentários que aparecem não é cobardia, é selecção. Em minha casa só entra quem eu quero. E a selecção é altamente justificável: algumas pessoas não têm nada de interessante a dizer, como o teu comentário vem provar.

Quanto à tua ideia:
Nunca na história da humanidade os religiosos (sim, é com "i") tiveram que respeitar os ateus, pelo contrário. Séculos de história só mostram que o facto de acreditarem em deus ou deuses lhes deu direito a queimarem ateus. Ainda hoje os religiosos conseguem impor a sua voz em muitas áreas.
Quanto à questão dos ateus respeitarem ou não os crentes e/ou religiosos, creio que isso vai na mesma medida com que se consegue respeitar alguém que acredita em fadas milagrosas e que gasta milhões a construir santuários e ídolos e cerimónias festivas.
Eu respeito alguém que acredite, por exemplo, que anões mágicos vivem nas caixas de multibanco, mas esse respeito termina quando esse alguém prejudicar o mundo em que vivo, impondo as suas crenças aos restantes e impedindo a ciência de evoluir, por exemplo.

E se publiquei este teu comentário, foi mesmo só para te usar como exemplo de que, realmente, anda aí muita gente a precisar de acompanhamento clínico.

RJ disse...

Como é que um pensador racional pode ter respeito por ideias que têm origem em estórias da carochinha?

O respeito do não crente a quem acredita esbarra na argumentação do não crente baseada em premissas irracionais.

O respeito que o ateu tem é relativo à liberdade do crente em ter as ideias que bem lhe apetecer, independentemente da sua fundamentação ou irracionalidade.
Neste caso fala-se em tolerância.

W. disse...

Ainda por cima, o tipo diz aquilo num tom aborrecido e monocórdico. Por viver no século XIV é que a ICAR está condenada a desaparecer; pena que vá demorar... É que o Nietzsche já dizia que Deus morreu! Será que ainda ninguém reparou?

Anónimo disse...

Até me podes usar como exemplo, mas um dia quando tiveres muito aflito com algo que te aconteceu, ou com alguém de quem gostas muito, vais ver se não te agarras a tudo que te aparece á frente, até aos "anões nas caixas de multibanco". Então se essa pessoa for um filho, passar do maior ateu para o maior crente.

E mostras mais uma vez falta de respeito com as tuas últimas palavras, mas pode ser que um dia em que acredites numa coisa alguém também goze contigo.

Só porque és ateu não quer dizer que todos a tua volta o tenham que ser... mas nunca entenderas isso, chama-se egocentrismo.

PS: No último comentário (tal como neste), não conseguia postar com uma alcunha, por isso, escrevi como anónimo, mas assino agora este... Óscar Matos.

Carlos disse...

Para encerrar aqui esta perda de tempo:

- Um dia, quando estiver muito aflito, resolvo as coisas como sempre achei que deviam ser resolvidas: sacrifico uma criança recém-nascida numa cerimónia ao som dos "Bee Gees" dedicada ao Deus do Esparguete Voador (podes saber mais sobre este Deus em http://www.venganza.org )

-Lá porque sou ateu não quer dizer que toda a gente tenha que o ser, tens razão, da mesma forma que lá porque acredito que a Terra gira em volta do Sol ninguém mais é obrigado a acreditar. Mais ainda, lá porque acredito que a expressão
"blog pessoal"
significa um espaço onde se pode escrever o que se pensa e o que se gosta, não quer dizer que outros pensem o mesmo. Se não gostas, podes sempre visitar outros blogs.
Há mais, sabes?
Aposto que há para aí muitos blogs interessantes sobre tapetes de arraiolos, grupos de coral, transformistas e coisas assim

- Quanto ao egocentrismo, nunca me considerei alguém que se centra exclusivamente nos seus próprios interesses, embora tenha este espaço na net sobre a minha actividade e os meus interesses. Até acho que á uma expressão para isto na net...ah, sim, chama-se "blog pessoal"

Não tenho nenhuma obrigação de ser politicamente correcto. Não tenho nenhuma obrigação de escrever coisas que vão de acordo com a tua perspectiva pessoal ou falta dela. Há muita gente que visita este blogue e com quem troco impressões de forma saudável e que são católicos, agnósticos e protestantes. Até mesmo um budista.
Mais uma vez, a casa é minha e deixo cá entrar quem me apetece, com as regras que me der na telha.
Não tenho nenhuma obrigação sequer de ser educado com quem logo à partida entra numa posição hostil.
Por isso, tanto te podes chamar Óscar Matos como ÓscarAlhinho, que vai dar sempre ao mesmo: a alguém que pela necessidade de dar nas vistas se torna incapaz de ter um diálogo tranquilo através da argumentação saudável.

Encerro aqui esta minha perda de tempo contigo. Sabes como é: "coisas de cobarde" na tua perspectiva, "coisas mais importantes para fazer na vida que aturar isto" na minha.

Eileen Almeida Barbosa disse...

Carlos, gosto cada vez mais de si. Quem tem um blog atura destas coisas de quando em vez, o consolo vem de saber que há sempre quem leia e perceba muito bem o que se quis dizer. Mas gosto mesmo mais de si porque sabe expressar as minhas ideias ateístas na perfeição.

JPinto disse...

Carlos, estamos contigo!
O post está excelente.

Sem querer entrar muito na polémica anterior parece que nem sempre a ignorância é uma "bênção" (desculpem o termo demasiado religioso)... ou então só o é quando a ignorância é total.

E obrigado por me receberes na tua "casa".

JPinto disse...

Eu não quero desenterrar alguns assuntos mas vi agora uma coisa que achei que ias gostar. hehehe

estacionamento do amor

Como alguém disse: "a estupidez religiosa em todo o seu explendor"